Desaprenda na Covid: O que podemos desaprender para nos adaptarmos melhor ao que está acontecendo?
A pandemia da Covid-19 mexeu profundamente com nosso dia a dia. E ainda nos traz incertezas quanto ao futuro. Mas, nos ensina, principalmente, que é hora de nos adaptarmos, revermos processos e pontos de vista, e nos tornarmos mais resilientes para o que vem pela frente. Por isso, convidamos o Cassio Grinberg (@cassiogrinberg), que vem fazendo sucesso em seus canais falando sobre o assunto, para compartilhar um pouco do seu conhecimento aqui no nosso blog.
O Cassio é sócio-fundador da Grinberg Consulting e autor do livro "Desaprenda - como se abrir para o novo pode nos levar mais longe" (Editora Belas Letras, 2019). Ainda é consultor de estratégia, palestrante e articulista nos jornais Estadão e Zero Hora. Em seus canais, como sua conta no Instagram, analisa a situação atual sob o ponto de vista do importante processo de desaprender e reaprender.
Quais os principais temas da Covid-19 que hoje nos estimulam a desaprender e reaprender? O Cassio responde:
A incerteza é a bola da vez
Existe um jeito produtivo de encarar a incerteza, que é não lutar contra ela. Aceitar que ela existe. Nassim Taleb costuma dizer que quanto mais baixo o risco, mais temos que pagar por ele. Então vale a pena corrermos alguns riscos. Do ponto de vista atual, dizer que o mundo é VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) é “chover no molhado”: o que está acontecendo nos mostra que, quanto mais nos dispusermos a aceitar as incertezas da vida, mais rapidamente nos reposicionaremos quando elas nos derem seus sinais.
Não importa a sua idade. Você vai ter que aprender de novo.
A vida sempre vai dar um jeito de mostrar a você que é hora de desaprender e reaprender algo, e agora ela está fazendo justamente isso. E não importa a sua idade: você está tendo que aprender de novo: a ficar sem aulas em sua escola, a trabalhar com os filhos se movendo em volta de você, a ficar sem ver seus netos.
Não importa o momento da vida em que você esteja, a nova realidade é que temos que aprender a continuar aprendendo por toda a vida. Apenas nos tornando eternos aprendizes é que conseguiremos sempre encarar as inevitáveis mudanças com mais naturalidade.
Dinheiro vai e vem. Tempo só vai.
Mais do que uma eventual queda de receita de empresas ou mesmo de renda pessoal, o Coronavírus está mexendo com nosso tempo. Nos vimos de repente presos em casa, e muito daquilo que previmos para nossos projetos profissionais terá que esperar. Ou seja, a situação não bagunça apenas com dinheiro, e sim com o tempo. Nos vemos novamente finitos, assustados, temendo perder o que temos de mais precioso. Precisamos, no entanto, entender que na verdade não estamos perdendo, e sim ganhando tempo agora, para não ter que perder mais tempo depois.
Be Water, my friend
Em uma situação como esta, será que o mais interessante não é deixar fluir? Impossível aí não lembrar dos ensinamentos de Bruce Lee: a água não tem formatos e nem contornos definidos. Quando ela entra em um copo, se torna o copo. Quando entra em uma chaleira, se torna a chaleira. Quando entra em uma garrafa, se torna a garrafa. Ou seja, a água tem esta maravilhosa capacidade de adaptação. E como estamos precisando disso agora.
Não pergunte apenas para o Google
Estamos acostumados a perguntar tudo para o Google, e de repente até ele ficou sem resposta. Claro, nem ele tem as respostas para tudo. Isso nos lembra da importância da inteligência não artificial (a humana), conversar mais com pessoas — neste momento, por exemplo, médicos e cientistas — inclusive com nossos clientes, para juntos encontrarmos soluções para um dilema completamente novo.
Deixe o Waze ligado
Todos nós gostaríamos de ter um Waze diferente: um aplicativo que nos orientasse o que fazer quando a encruzilhada batesse na porta, quando a decisão fosse determinante, quando aquela situação nos deixasse sem fala. Digitaríamos nosso dilema, e ele nos responderia: diga isso, faça isso, vá por aqui. Mas já temos, dentro de nós, esse "aplicativo mágico”. Só que nos esquecemos de deixá-lo ligado — nos escutando mais, aceitando que nem sempre dá para ter certeza, lembrando que inteligência é o que a gente faz justamente quando não tem ideia do que fazer. Esta é a hora de confiar na intuição.
O importante é não competir
Para resolver problemas, é preciso conversar sobre eles. E o Coronavírus é um daqueles dilemas que o mundo recebeu e que somente podem ser solucionados em conjunto. No entanto, o mundo segue competindo para ver quem tem “menos mortes” — e, muitas vezes, cooperar é mais importante que competir. É preciso que os países troquem experiências, acertos e erros, façam benchmarking, intercambiem recursos e habilidades. Sairemos desta, mas com real cooperação poderíamos estar saindo mais rapidamente.
Abrace o extraordinário
O extraordinário é aquilo que nos tira da zona de conforto. Aquilo que sai do ambiente de nossas certezas padrões e, para o bem ou para o mal, vira o nosso mundo de cabeça para baixo. E só existe uma coisa que não podemos fazer com relação ao extraordinário: negá-lo. Quanto antes a gente aceita, antes a gente ganha a calma necessária para agir. O coronavírus nos força a acelerarmos algumas mudanças que já estavam por aí, e principalmente a fazermos com as próprias mãos: sabemos que nada cai do céu. Este é um momento de transformação. De mudar processos e se preparar para o retorno. De entender que muito da velocidade de retomada dependerá da gente. Mas principalmente, de começar aceitando o que está acontecendo. De parar de lutar contra o que já está aí e focar a energia na mudança.
A hora da autonomia
De repente, ficamos 'sem chefes'. Trabalhando de home office, estamos como aquele pai que dava uma entrevista na BBC e teve seu escritório invadido pelas crianças (veja o vídeo aqui! https://www.youtube.com/watch?v=CJB5arZupws). E sabe o que é mais interessante? Estamos gostando disso! Viveremos, daqui para frente, um cenário irreversível no que diz respeito ao binômio liberdade + responsabilidade. E reforçaremos, com isso, uma cultura que pode alavancar toda a criatividade nos negócios. Já sabemos, hoje, identificar os profissionais que, mesmo de casa, são capazes de dar respostas à altura dos desafios. E é bom que saibamos cultivá-los; até porque, quando for hora de acelerar a retomada, esses serão justamente os profissionais mais disputados, e que não toparão retroceder a um “normal” que não existirá mais.
O ser humano desaparecerá se não desaprender
Neste último vídeo da série Desaprenda na Covid, não quis fazer um alarme, e sim um chamado. A situação atual exige muito de nós, mas também nos dá uma grande oportunidade. Somos estimulados a rever tudo, como nunca antes nossa geração foi. Provocar a própria obsolescência é buscar contínua renovação, tanto do ponto de vista corporativo quanto pessoal. David Bowie fez isso durante toda a sua carreira, recriando personagens e conceitos bem quando as vendas estavam em alta. O coronavírus tirou todos nós da zona de conforto. E isso pode ser uma ótima oportunidade para desaprender e aprender de novo.